" '- Papai! Está acordado, papai?'
O homem ouve o pequeno ser que caminha em seu quarto. Cobre-se ainda mais, como se um frio sobrenatural tomasse conta do lugar. O menino caminha lentamente, aproximando-se pé ante pé do leito onde repousa seu pai, dá uma série de pulinhos, como se brincasse de amarelinha. O menino abaixou-se e arremessou uma bolinha de gude no assoalho. O brinquedo de vidro rolou pelo chão de tacos, produzindo um som fantasmagórico.
O homem estarreceu. Virou-se repentinamente, ainda deitado, deixando apenas os olhos espiarem o quarto pela fresta que arranjou no pesado cobertor. O som da bolinha de gude era assustador porque não deveria existir brinquedo algum ali. Não deveria existir menino tagarela nenhum em seu quarto. Não tinha filho que pudesse chamá-lo de pai. Tinha diante de seu olho amedrontado uma espécie de espectro que andava, falava e saltitava amarelinha.
Um fantasma que o chamava de pai.""
Um criminoso, Damião, é preso e, em frente à delegacia onde ele está, começa a se reunir uma multidão: pais, mães, familiares, amigos - todos revoltados e querendo fazer justiça com as próprias mãos. O motivo? O criminoso é acusado de abuso sexual seguido de assassinato de crianças e as pessoas que protestam na porta da delegacia estão lá representando as várias vitimas do marginal.
A situação é tão grave que até os outros presos querem matá-lo e ele precisa ficar numa cela separada de todos eles para que não seja morto.
O sol ainda não nasceu e enquanto a população indignada vai aumentando lá fora, Vina, o carcereiro, vê três crianças entrando na delegacia e se pergunta que tipo de pais os levariam para aquela bagunça àquela hora da madrugada. Imagina que elas entraram para beber água mas, quando olha de novo, percebe que elas passaram pela grade da primeira porta que dá acesso às celas. O problema é que todas as portas estavam fechadas, ele tinha certeza. Como elas conseguiram passar pelas grades de proteção?
Mesmo sem ter a menor ideia de como isso foi acontecer ele começa a chamar pelas crianças para impedir que elas se aproximem da cela do estuprador.
"Vina abriu a segunda grade e correu para o fim do corredor. Antes de alcançá-lo, seu sangue gelou ao captar gritos apavorados. Correu. Entrou à direita. As portas das celas especias ficavam ali. Gritos atormentados enchiam o corredor."
O desespero do carcereiro começa quando ele ouve os clamores vindos da direção da cela do assassino, mas acaba descobrindo que quem está gritando por socorro é o próprio, e ele grita com todas as forças implorando pela vida. Outros dois policiais chegam ao local mas já é muito tarde para conseguirem agir antes que uma tragédia aconteça. Damião foi morto dentro da própria cela, mas quando os policias abrem a porta, só se deparam com um corpo estirado no chão e mais nada - nem ninguém.
Mas e as crianças? Você pode imaginar onde se meteram e o que elas têm a ver com toda essa loucura?
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(imagem autoral) |
Esse é o primeiro de vários casos bizarros envolvendo criancinhas e Tânio, um detetive particular, acaba se envolvendo em um deles sem saber direito no que estava se metendo.
Em um típico dia ocioso no escritório, pensando em como vai fazer para pagar as contas atrasadas, Tânio recebe a visita de uma cliente inesperada: Lizete, sua amiga dos tempos do colégio com quem não tinha contato já há alguns anos.
A amiga chega visivelmente abalada, beirando o desespero, ao escritório e pede que ele a ajude a descobrir por que anda ouvindo vozes dentro da própria casa.
Isso mesmo. Vozes. Ou, melhor dizendo, apenas uma voz, de um menino que se chama Pedro e que, volta e meia, fala com ela chamando-a de mãe. À princípio ela cogita a possibilidade da criança ser o fantasma do filho pequeno que ela teve mas que faleceu ainda muito novo, mas o nome não é o mesmo e ela não sabe mais o que fazer. A mente dela está em frangalhos e ela não é a única que passa por isso. Seu ex-marido, Rogério, está passando pela mesma coisa, mas a abordagem do "fantasma" com ele é diferente, mais agressiva - o que faz com que o médico comece a pensar que está sofrendo de algum distúrbio mental.
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(imagem autoral) |
Se você gosta de histórias de fantasmas, fique sabendo que o que temos nesse livro é um enredo nada convencional. Eu fiquei de boca aberta quando eu li a primeira vez porque não conseguia entender de onde o André Vianco tirou uma ideia dessa pra um livro. Tudo o que eu imaginei e todas as possibilidades que eu formulei foram por água abaixo até determinado ponto. Quando eu comecei a fazer uma vaga ideia do que poderia estar acontecendo, tinha o problema de não saber COMO estava acontecendo.
O livro é bem curtinho (dá pra ler de uma tacada só) e é uma leitura que vale a pena pela riqueza nos detalhes e pelo enredo que, mesmo curtinho e com uma coisinha ou outra que me impediram de dar 5 estrelas, eu considero bem original.
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