O CIRCO MECÂNICO TRESAULTI, Genevieve Valentine

"Respeitável público,

sejam bem-vindos ao incrível Circo Mecânico Tresaulti, o lugar para quem acredita no mundo mágico que nos rodeia. Permita-me conduzi-lo por uma viagem única através da luz e das sombras onde descobriremos juntos uma nova forma de ver tudo e a todos. Onde não existe limite entre o picadeiro e a plateia, onde tudo é real e o único limite é a nossa vontade de sonhar."

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Diferente, singular, incômodo. O tipo de leitura que nos obriga a sair da zona de conforto por causa da sua narrativa, dos eventos narrados e da atmosfera na qual nós somos simplesmente jogados de cabeça.

Até mais ou menos a metade do livro a leitura pra mim, foi bem tensa e densa, principalmente pelo fato de que a Genevieve usa uma técnica de narrativa tão peculiar que nós nos sentimos perdidos no início; depois a gente fica sem saber aonde a história vai nos levar; mas quando a gente se acostuma, a leitura flui muito rápido e a curiosidade de saber como tudo acaba toma conta.

• SOBRE A NARRATIVA: não existe uma forma definida -- uma hora a história é narrada pelo Little George, um dos personagens de maior destaque. Quando ele narra, nós vemos tudo o que ele viu e o que ele sabe, mas mesmo assim a autora se utiliza de parênteses para incluir reflexões e fatos que ele desconhece no momento mas que virá a descobrir futuramente (ou não). -- Em outro capítulo a história é narrada em terceira pessoa, por alguém que não faz parte e é impessoal. -- Já num outro momento, temos tudo em primeira pessoa, como se nós fôssemos os personagens, o que nos leva a sentir e a mentalizar tudo aquilo pelo que o personagem está passando em "tempo real".

• SOBRE OS PERSONAGENS: são muitos. Tantos que dá um nó na cabeça no início, mas depois os de maior importância vão se destacando e fica tudo certo.

• SOBRE O ENREDO: se passa em uma época pós-apocalíptica. O mundo passou por uma guerra terrível que devastou países inteiros, e o cenário mundial mudou completamente. Não há mais governantes (é cada um por si e sempre tem um mais esperto que os outros para querer se apoderar de pedaços de terra e se tornar um tirano). 

É no meio desse pano de fundo que temos o Circo Mecânico Tresaulti. A trupe é formada de pessoas que, em sua maioria, têm partes do corpo que são mecânicas, e essa troca de membros que possibilita um melhor uso do corpo para as apresentações é feita pela Boss, a chefe do circo.

O livro é envolto numa aura de mistério por conta desse dom que a Boss tem, que ninguém sabe ao certo de onde veio. Ninguém sabe como ela faz para trazer as pessoas de volta à vida e fazer esse transplante de partes do corpo, como se ela fosse uma espécie de Victor Frankenstein, mas que faz isso ressaltando sempre as maiores habilidades das pessoas. Por exemplo, uma trapezista seria ainda mais incrível se tivesse o corpo mais leve e se tivesse pernas menos frágeis - então ela mexe na estrutura óssea de forma a proporcionar um verdadeiro espetáculo no momento das apresentações. Tudo, claro, com seu consentimento. Inclusive, são as pessoas que se oferecem para fazer parte do circo e para serem modificadas pois em um mundo devastado pela guerra, viver com uma equipe que não tem destino certo é mais seguro do que se instalar em um cidade que pode ser bombardeada a qualquer momento e onde não se tem liberdade de verdade, com soldados por toda a parte.

Além de tudo isso, ainda há o fato de que não há, tecnicamente, elementos sobrenaturais no contexto. É um mundo normal, distópico, mas que tem esse circo com pessoas e passados únicos e que têm em comum o fato de procurar o circo como uma forma de abrigo.